Naquele fim de tarde deu-se uma cena
atípica. Era Ele quem a observava de certa distância sem ser percebido. Ela, acomodada no velho e
frio banco da Praça Central, a beleza singular – sua eterna seguidora -
repousava em silêncio sob um lenço de
seda fina, atípico em terras tropicais. O vento soprava frio e constante, isso justificava o cuidado em
agasalhar-se adequadamente, a bela jovem. Ela estava aparentemente sozinha
e continuou inerte por alguns instantes, limitando-se a acompanhar o movimento em
torno de si apenas com o olhar atento. Atento
e despretensioso. Um leve sorriso teceu os lábios dele, e finalmente
aproximou-se.
- Você veio. Ele proferiu ao fazer-se
notar.
Ela
voltou-se em um sorriso iluminado.
- Eu disse que viria. Você faria o mesmo,
não? Ela o abraçou com leveza.
- Claro que sim.
- Mas não o fez. Observou ela enquanto ambos se acomodavam. – Não foi ao evento.
- É verdade, admitiu ele, não consegui chegar a tempo. Mas, vi pela televisão. Foi um espetáculo, aquilo lá! E você… você estava além daquilo que imaginei!
- Eu sei que não pôde comparecer. Ela sorriu. – Mas tinha certeza que estava torcendo por mim.
- Claro que sim.
- Mas não o fez. Observou ela enquanto ambos se acomodavam. – Não foi ao evento.
- É verdade, admitiu ele, não consegui chegar a tempo. Mas, vi pela televisão. Foi um espetáculo, aquilo lá! E você… você estava além daquilo que imaginei!
- Eu sei que não pôde comparecer. Ela sorriu. – Mas tinha certeza que estava torcendo por mim.
- E
agora, depois de algum tempo, está feliz? Como conseguiu vir aqui se agora
virou personalidade nacional?
- Ainda é difícil de acreditar. Fato é
que estou muito, muito feliz mesmo. Claro que tem percalços, como todo
trabalho, mas me preparei tanto para viver isso que as vantagens se sobrepõem
as mazelas. Ah!... voltei à nossa cidade
pra curtir a família. Uma semana sozinha com ela… acredita nisso? Ela
sorriu por fim.
- Estou
muito feliz por você. Na verdade quem a conheceu antes, já nutria a certeza do seu
sucesso.
Em meio
aos sons da cidade, um grupo de jovens
surfando em skates barulhentos
chamou-lhes a atenção. Eles deslizaram ruidosamente sob o calçadão da Praça
Central e pararam a pouca distância, aos gritos e conversas desconexas. Pouco tempo depois, retomaram as
plataformas sob rodas e seguiram destino.
- Que loucura… esses garotos! Ela
observou. - Você viu que no grupo havia meninas também?
- Vi. Ele sorriu. – E alguns eu conheço.
- Vi. Ele sorriu. – E alguns eu conheço.
- Conhece de onde? Ela quis saber.
- Daqui
mesmo. Eles praticam "skatismo". Daqui
descem pra pista de skate construída
a três quadras. A mocinha de capuz rosa trabalha naquela lanchonete ali. Ele
apontou o estabelecimento com letreiro luminoso incandescente. – Não raras
vezes vou até lá fazer uma boquinha.
- Mas, e
agora? Ele a encarou. Você vai disputar
a etapa internacional do concurso?
- Sim,
em alguns meses. Daqui até lá, tenho um roteiro apertado. Vejo até pouco tempo para tanto trabalho.
- E como
você está? Acredita que será mais ou menos difícil?
-
Francamente, ainda não parei pra pensar. Participar
da etapa internacional é apenas mais uma atribuição que agreguei ao título
nacional. Lá, estamos cientes de que devemos cumprir todas as etapas, até o
final do ciclo. Isso inclui participar do etapa internacional. Se ganharmos
será consequência do trabalho que estamos desenvolvendo.
Ele recostou-se ao banco e sorriu, meneiando de leve a cabeça.
- O que
foi? Redarguiu ela.
- Tem aprendido bem as lições. Ao contrário
de muitos que se preparam para perder, fico feliz em saber que está em constante preparação pra ganhar.
Consciente de que poderá perder, mas preparada pra ganhar. Isso é virtuoso.
- Fazer leituras que destoam de minha faixa
etária pode ter contribuído. Retrucou ela a sorrir. – E claro, conversas
paralelas em bancos de praças centrais.
Após a
leve descontração, os olhares se encontraram. Ele sorriu demonstrando carinho. Ela retribuiu.
- Quero te pedir algo. Ele retomou a
conversa.
- O que
seria?
- Não permita que nada interfira na conquista
das metas já traçadas. Tem feito um belo trabalho com afinco e vontade.
Continue com sobriedade até o final. Termine
este, daí comece a traçar o próximo.
- E por
que eu desistiria?
- Promete que vai até o final sem se
deixar envolver por eventos externos. Insistiu
ele.
Ela o encarou. Desviou o olhar. Os lábios tremularam timidamente
e em seguida, o corpo inteiro. Ele
manteve-se firme a encará-la. Ela estremeceu novamente. Seria ela tão óbvia
assim? Como poderia ele conhecê-la ao ponto de ler seus pensamentos? Questionou
a si mesma, em silêncio. Por fim, ela
inspirou profundamente.
- Sim… até o “final do ciclo”. Ela proferiu trêmula. Uma lágrima rolou e ele a
reteve na sutileza de um gesto.
- As vezes precisamos abdicar. Não
podemos ter tudo ao mesmo tempo ou correremos o risco de nada termos amanhã. É uma decisão difícil, eu sei, mas
hoje, você tem um papel a desempenhar e não trata-se de um personagem comum. É o seu personagem, que se bem
construído fará toda a diferença… pra vida toda.
- Que bom que eu tenho você. Inclinou-se
ela ao ombro dele.
- Temos um ao outro. Ele completou. – E podemos
demorar a nos ver novamente, mas isso não quer dizer que não estaremos juntos.
- Eu
sei. Depois desta semana, não sei quando retornarei aqui, e você?
- Bom,
depois que fui transferido pra sede do escritório na Capital, minhas estadias
na cidade ficaram bem esporádicas. Depende muito da demanda de trabalho. Mas,
haveremos de dar um jeito. Tranquilizou ele.
Um carro estacionou no habitual ponto onde ele costumava deixar o seu próprio auto. Um leve
toque de buzina lhes chamou a atenção.
- É o meu
pai. Ela observou a sorrir.
- Bom,
hora de voltar ao trabalho. Hoje, a noite será, realmente, uma criança. Ele
brincou.
Após cumprimentar os ocupantes do automóvel, ele despediu-se dela; ela dele e este
por sua vez, dos recém-chegados. Em breve o automóvel rompeu o trânsito,
enquanto ele acenava. Por um instante sentou-se
sozinho, pensativo. Em seguida, espalmou as mãos sobre as coxas em leves
palmadas, ergueu-se, atravessou a rua e adentrou ao prédio.
Realmente,
naquela noite, ele trabalharia até
altas horas.
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